Ouça a história

Nós podemos narrar a história para você!

Você pode ouvir a história clicando no botão abaixo:

O Patinete Que Aprendeu a Voar

Imagem da História

Era uma manhã tão dourada que parecia que o sol tinha acordado feliz demais. Tito, com seus sete anos de pura energia, corria pela sala atrás de uma caixa enorme com um laço vermelho no topo.

— É hoje! É hoje! — gritava ele, enquanto seus olhos brilhavam como duas estrelinhas.

Quando abriu o presente, lá estava: um patinete novinho, reluzente como espelho, com rodinhas que pareciam ter guardado um pedacinho do arco-íris dentro delas. Era amor à primeira vista!

Mas no canto da garagem, meio esquecido como um brinquedo que não é mais convidado para as brincadeiras, estava o patinete antigo. As rodinhas já não cantavam mais ao rodar, e o guidão tinha alguns arranhões que contavam histórias de aventuras passadas.

— Tito, filho, que tal a gente doar o patinete velho para uma criança que precisa? — sugeriu a mãe, com aquele jeitinho carinhoso de quem quer ensinar sem forçar.

— Não, mãe! Esse é MEU! — respondeu Tito, abraçando o patinete antigo como se fosse um ursinho de pelúcia. — E se eu quiser usar ele de novo? E se o novo quebrar?

O coração de Tito tinha construído uma cerca bem alta em volta das suas coisas. Ele ainda não sabia que algumas cercas a gente precisa derrubar para deixar a felicidade entrar e sair livremente.

No sábado seguinte, Tito foi passear no Parque das Mangueiras com seu patinete novo. O vento brincava com seu cabelo enquanto ele deslizava pelos caminhos de pedra. Era tão divertido que parecia estar voando!

Foi quando ele viu, debaixo de uma árvore frondosa, um menino da mesma idade. Mas esse menino era diferente: tinha os pés descalços que pareciam nunca ter conhecido sapatos, e sua roupa era um retalho de histórias difíceis. Ele observava Tito com olhos grandes, cheios de uma vontade quietinha.

— Oxente, meu nome é João! Que massa esse negócio aí que cê tá, visse? — disse o menino, com um sorriso que era pura luz mesmo sem ter muitos dentes.

— É um patinete! Quer experimentar? — ofereceu Tito, sentindo algo estranho no peito, como um beliscão de curiosidade misturado com uma pontinha de tristeza.

oão subiu no patinete com cuidado, como quem pega um tesouro emprestado. Suas mãos calejadas seguravam o guidão com uma delicadeza de borboleta. Ele deslizou devagarzinho, e o sorriso que nasceu no seu rosto era do tamanho do Nordeste inteiro.

— Arretado demais da conta, sô! — João gritava, feliz. — É como se a gente virasse passarinho!

Tito ficou ali, parado, vendo João brincar. E foi naquele momento que o mundo ficou um pouco maior para ele. Era como se alguém tivesse aberto uma janela que ele nem sabia que existia na sua casa.

— João, você... você tem brinquedos em casa? — perguntou Tito, com a voz pequenininha.

João parou o patinete e coçou a cabeça.

— Brinquedo, rapaz? A gente brinca é com o que Deus dá: tampinha de garrafa vira carrinho, galho vira espada... A imaginação da gente é que é o brinquedo, né não? — explicou ele, sem tristeza na voz, mas com aquela sabedoria que só quem precisa inventar alegria conhece.

O coração de Tito começou a fazer um barulhinho diferente. Era como se as cercas que ele tinha construído estivessem começando a balançar com o vento.

Imagem da História

Naquela noite, Tito não conseguia dormir. Revirava na cama pensando no João, no sorriso dele, nos pés descalços, na alegria que brotava de quase nada. Era como se dentro do peito de Tito tivesse nascido uma sementinha de algo novo.

Ele se levantou e foi até a garagem. Lá estava o patinete antigo, ainda esperando no canto. Tito passou a mão no guidão arranhado e percebeu uma coisa: aqueles arranhões não eram só marcas. Eram memórias de dias felizes, e memórias a gente carrega no coração, não na garagem.

— Você pode fazer outra criança voar — sussurrou Tito para o patinete, como se ele pudesse ouvir.

No sábado seguinte, Tito voltou ao parque com uma sacola grande. Dentro dela, o patinete antigo brilhava de uma forma diferente — não com o brilho de novo, mas com o brilho de quem ia ganhar uma segunda chance de fazer alguém feliz.

Quando João viu Tito chegando, acenou de longe:

— E aí, cumpadre! Trouxe o bichinho voador de novo?

— João — disse Tito, com um sorriso que nascia lá do fundinho do coração — eu trouxe um presente pra você.

Os olhos de João ficaram do tamanho de duas luas cheias quando ele viu o patinete saindo da sacola.

— Pra mim, é? Mas... mas... — gaguejou João, sem acreditar.

— É seu agora. Para você voar sempre que quiser — disse Tito.

oão abraçou Tito tão forte que parecia que queria guardar aquele momento para sempre. E Tito sentiu algo incrível: era como se o coração dele tivesse crescido três tamanhos. Ele descobriu que dar não deixa a gente com menos — na verdade, enche a gente de um jeitinho que nenhum brinquedo novo consegue fazer.

— Vou cuidar dele direitinho, viu, meu irmão? Como se fosse a coisa mais preciosa do mundo! — prometeu João, com lágrimas de alegria escorrendo pelo rosto.

— Eu sei que vai — respondeu Tito, sentindo que tinha aprendido algo muito maior do que andar de patinete.

Naquele dia, dois patinetes deslizavam pelo Parque das Mangueiras. Dois meninos riam ao vento. E Tito descobriu que o melhor jeito de guardar as coisas que a gente ama não é trancando elas, mas deixando que elas façam outras pessoas felizes.

Porque, no final das contas, a verdadeira alegria não é aquela que a gente segura só para si. É aquela que a gente divide e que, como mágica, se multiplica.

E o patinete antigo? Ah, aquele aprendeu mesmo a voar — levando João pelos caminhos da vida, provando que todo objeto tem alma quando carrega dentro de si um pedacinho de amor.

"Há mais felicidade em dar do que em receber, porque o que se dá com o coração nunca se perde — apenas muda de endereço e continua a fazer o mundo mais bonito."

Fim.

O que você achou da história?