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Migongo, o mico de mil travessuras

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Na floresta da Mata Atlântica, onde as folhas sussurram segredos ao vento e os raios de sol dançam entre as árvores como fios de ouro, vivia Migongo, um Callithrix jacchus mais rápido que um pensamento e mais tagarela que um riacho de verão.

Migongo não era um mico qualquer - era um furacão de pelagem prateada, um artista das histórias inventadas, um mestre das meias-verdades. Seus olhos brilhavam como duas jabuticabas maliciosas toda vez que uma mentira escapulia de sua boca, leve como um beija-flor, mas pesada como uma pedra no coração de quem acreditava.

Naquela manhã, Migongo acordou com as energias de dez cajuís saltitantes. Antes mesmo do sol esticar completamente seus dedos dourados no céu, ele já havia:

Assustado o tatu Tito com um "Tem uma cobra gigante enrolada na sua toca!" (era apenas um cipém retorcido).

Convencido a coruja Ofélia de que "A lua caiu no rio!" (ela quase quebrou as asas voando para ver).

Prometido ao coelho Bento um "banquete de frutas raras" (só para fazê-lo correr até um pé de manga... vazio).

Os animais da floresta já conheciam o festival de lorotas de Migongo. Suas mentiras eram como folhas secas no vento: voavam rápido, enfeitavam o ar com cores vivas, mas no chão, só restava o vazio.

— "Migongo, um dia suas histórias vão te deixar encurralado!" rosnou Valente, o veado, enquanto sacudia a galhada como quem sacode um aviso.

— "Ah, Valente, você é tão sério quanto um jacaré em dieta!" riu o mico, equilibrando-se num galho.

Mas Bento, o coelho de orelhas caídas e coração mole, ainda tentava acreditar:

— "Migongo, pra que mentir? Um dia vão te ouvir gritar por ajuda e ninguém virá..."

— "Socorro? Eu? Nunca!" ele deu um salto, piruetando no ar. "Sou o rei da floresta! Até o sol pede minha sombra pra descansar!"

E assim, entre saltos, risadas e exageros que cresciam como trepadeiras, Migongo teceu sua própria armadilha de desconfiança - fio por fio, mentira por mentira.

O Poço das Mentiras

Naquela tarde, enquanto a floresta cochilava sob o manto dourado do sol, Migongo decidiu pregar mais uma de suas "artes". Dessa vez, espalhou que havia um tesouro brilhante no fundo de um velho poço abandonado - "Moedas de sol, mais reluzentes que as escamas do rio!" - e, é claro, os animais correram para ver.

Mas quando chegaram ao local, só encontraram pedras e sombras.

— "Outra mentira, Migongo!" resmungou Tito, o tatu, rolando-se em frustração.

— "Você é tão confiável quanto um pé de mandacaru na seca!" zurrou Zeca, o pica-pau, batendo o bico num tronco.

Migongo riu, saltando de galho em galho, até que...

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A Queda

Num salto desastrado (e um pouco arrogante), ele escorregou na beirada do poço e caiu dentro!

Pluft!

Água fria, escuridão úmida e paredes escorregadias. Dessa vez, o perigo era real.

— Socorro! Alguém me ajuda! — gritou, sua voz ecoando como um chamado sem resposta.

O Desespero que Ninguém Acreditou

Os animais ouviram, mas apenas suspiraram:

Ofélia, a coruja: "Poupa nosso ouvido, Migongo. Já caímos nessa antes."

Valente, o veado: "Se está preso mesmo, que seja lição!"

Até Bento, o coelho, hesitou. "E se for verdade? E se ele realmente está em apuros?" Mas os outros o convenceram: "Não seja tolo, Bento. Ele sempre inventa algo!"

A Solidão no Fundo do Poço

Migongo tentou escalar, mas as pedras estavam molhadas e suas mãozinhas escorregavam. Pela primeira vez, o rei das lorotas sentiu o gosto amargo do silêncio.

Lá em cima, o sol começou a se despedir, pintando o céu de roxo. E no fundo do poço, uma voz pequena e triste sussurrou:

— "Eu só queria que alguém acreditasse em mim..."

O Resgate e a Lição das Palavras Verdadeiras

O sol já se escondera atrás das montanhas quando Bento, o coelho, sentiu um frio na barriga. "E se, desta vez, Migongo não estivesse mentindo?"

Com o coração apertado, ele correu até o poço e chamou:

— Migongo?

Do fundo, uma voz fraca respondeu:

— Bento...? Eu... eu realmente caí. E a água está gelada.

O coelho esticou as orelhas para baixo, mas o poço era fundo demais. Precisava de ajuda.

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A Corrida Contra o Tempo

Bento saiu pulando como um tamborim tocado às pressas e reuniu os animais:

— Dessa vez é verdade! Migongo está preso no poço!

Os outros hesitaram:

Zeca, o pica-pau: "De novo essa história?"

Tito, o tatu: "Se eu fosse acreditar nele, já teria virado um chapéu de caipira!"

Mas Ofélia, a coruja, com seus olhos sábios, observou o desespero de Bento e decidiu intervir:

— Uma mentira não apaga a possibilidade de uma verdade. Vamos ver.

Os animais, ainda relutantes, seguiram Bento até o poço - mas o que encontraram não era apenas um Migongo em apuros.

O Perigo que os Esperava

Quando se aproximaram, um ruído profundo ecoou na mata. Folhas se agitavam, galhos estalavam... e então dois olhos amarelos brilharam na escuridão.

Era Juba, a onça-pintada, circulando o poço como um relâmpago faminto.

— O cheiro de macaco molhado é sempre um bom aperitivo... — rosnou ela, mostrando dentes afiados.

Os animais congelaram. Agora, não se tratava apenas de acreditar em Migongo - era uma questão de vida ou morte!

O Plano Improvisado

Ofélia, sempre estratégica, sussurrou:

— Distraiam ela! Enquanto isso, Bento procura um cipó firme para jogar para o Migongo para podermos puxá-lo para fora.

Tito começou a rolar pedras para longe, fazendo barulho. Zeca bateu as asas, criando uma nuvem de poeira. Valente, com sua agilidade, correu em círculos, atraindo a atenção da onça.

Enquanto isso, Bento, com o coração acelerado, encontrou um cipó grosso e resistente. Ele gritou para Migongo:

— Migongo! Pegue este cipó! Vamos te puxar para fora!

Enquanto isso, Zeca, o pica-pau, começou a martelar um tronco oco, criando um ritmo ensurdecedor.

Tito, o tatu, rolou como uma bola espinhosa em direção à onça, forçando-a a recuar.

Ofélia mergulhou do céu, batendo as asas perto do focinho de Juba, que rosnou confusa e com a barulheira, hesitou.

Foi o tempo que Bento precisava para começar a puxar o cipó, mas Migongo era muito pesado para que ele sozinho pudesse puxá-lo.

Então, teve a idéia de amarrar o cipó em sua cintura e rápido como o vento, desceu até o poço, onde Migongo tremia de frio e medo.

— Segura firme! — gritou Bento, ajudando o mico a se agarrar à corda.

Valente usou seus chifres para puxar os cipós presos nas árvores.

Juba, percebendo o ardil, deu um salto em direção ao poço, mas... PLIM! Um fruto duro, arremessado por Zeca, acertou seu nariz. Ela uivou e recuou por um instante - tempo suficiente para que Valente e os outros puxassem Migongo para fora!

A Lição Entre Rugidos

Enquanto fugiam para a segurança das árvores mais altas, Migongo olhou para trás e viu Juba esfregando o focinho, derrotada. Seu coração bateu forte, não só pelo susto, mas pela lição dura que a floresta lhe dera:

— Se vocês não tivessem vindo... — sua voz sumiu.

Ofélia pousou em seu ombro, severa:

— Mentiras são como cheiros fracos: atraem os perigos de longe. A verdade, mesmo assustadora, nos mantém unidos e alertas.

Bento, ainda ofegante, completou:

— E hoje você viu... até uma onça pode ser menos perigosa que uma mentira solitária.

Migongo abaixou a cabeça, e pela primeira vez, suas palavras saíram sem artifícios:

— Prometo... vou merecer a confiança de todos novamente.

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O Novo Rumo

Daquele dia em diante, Migongo usou sua esperteza para proteger, não enganar:

Vigiava os cantos da floresta e avisava sobre perigos reais.

Contava histórias (verdadeiras!) sobre suas aventuras, e todos riam com ele, não dele.

E quanto a Juba? Bem, ela nunca desistiu de caçar... mas até ela respeitou o bando unido que, graças à coragem e à verdade, virou uma família.

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