O Dia em que Tudo Mudou de Cor
— Sua flor está PRETA! E não é só isso... Seu Ventinho Cheiroso desapareceu!
Era verdade. A flor mágica, que sempre dançava entre rosado, azul e dourado, agora estava escura como tinta. E pior: por mais que Rafael corresse, se estressasse ou comemorasse, nada saía dele — nem pipoca, nem queijo, nem dragão de canela. Era como se seu corpo tivesse esquecido como sentir.
— Isso não é normal — murmurou Théo, cheirando a flor negra. — Tem gosto de... chuva ácida e lápis quebrado.
Pedro, pela primeira vez, não fez piada.
O Sumiço de Dona Alzira

O grupo correu para o Jardim dos Suspiros, mas algo estava terrivelmente errado:
- O caminho de pétalas havia secado.
- As árvores-balão murcharam, penduradas como meias velhas.
- E Dona Alzira... não estava em lugar nenhum.
No chão, apenas um bilhete rabiscado:
"Quando a última flor escurecer, o jardim precisará de um novo jardineiro."
— Ela foi embora? — perguntou Lara, tocando numa Floris Aromática murcha.
— Ou pior — respondeu Sofia, pálida. — Alguém a levou.
O Viveiro dos Corações

A Descoberta do Quarto Segredo
Foi então que Rafael notou: uma única flor ainda brilhava no jardim. Era pequena e prateada, escondida sob uma pedra. Ao tocá-la, ouviu-se uma voz (que não era de Dona Alzira, mas soava familiar):
"Só escurece quem já foi luz. Só perde o vento quem teve demais. Para salvar o jardim, Rafael, traga de volta o cheiro que você esqueceu."
— Que cheiro?! — ele gritou, frustrado.
Foi quando Théo deu o palpite certeiro:
— O primeiro. Aquele que você odiava tanto que apagou da memória.O Cheiro Esquecido
Rafael sentou no chão e fechou os olhos. Relembrou:
- O Ventinho Envergonhado original (que fedia a "trovão podre").
- As crianças rindo.
- O medo de nunca ser normal.
E então entendeu: ao domar seu odor, ele rejeitara uma parte de si — justamente a que mantinha a magia viva.
— Preciso... deixar o cheiro ruim voltar? — perguntou, assustado.
Sofia apertou sua mão:
— Não é ruim. É só seu. Como o meu "aroma de giz" e o rodo de dragão do Théo.
O Ritual das Flores Chorosas

O grupo formou um círculo e:
- Rafael respirou fundo e deixou o velho cheiro voltar (um pouquinho só).
- Théo soprou sobre a flor negra, com seu hálito de canela.
- Sofia e Lara regaram-na com lágrimas (que, segundo Pedro, cheiravam a "sanduíche de saudade").
E então... PLIM.
A flor negra estremeceu, cuspiu uma fumaça dourada e... virou transparente, como cristal. Dentro dela, uma minúscula Dona Alzira acenava, dormindo.
— Ela tá dentro da flor?! — gritou Pedro.
O Despertar do Jardim

Com um espirro coletivo (cada um com seu ventinho único), o jardim inteiro acordou:
- As Floris Aromática cantarolaram como grilos.
- O caminho de pétalas virou um rio de balas de goma (com cheiro, claro).
- E Dona Alzira surgiu de trás de uma árvore, com um pote de mel na mão:
— Vocês passaram no teste! — ela riu. — O jardim só sobrevive se vocês aceitarem até o que os envergonha.
Rafael olhou para as mãos: seu Ventinho Envergonhado voltara, mas agora cheirava a terra molhada e aventura — nem doce, nem ruim. Apenas dele.
Epílogo: O Menino que Virou Lenda

Anos depois, Rafael (agora com 12 anos) virou o novo Jardineiro dos Suspiros. Sua flor transparente cresceu e virou uma árvore-portal, onde crianças do mundo inteiro deixam seus "cheiros difíceis" para serem transformados.
E a lição final?
"Todo mundo tem um ventinho que parece malvado, mas que, no fundo, é só um tesouro disfarçado."
FIM... ou será que não? ...