O Menino e o Relógio
João era o menino mais alto da turma, com olhos verdes como folhas de jabuticaba e cabelos pretos encaracolados que dançavam ao vento. Mas havia uma coisa que deixava seu coração acelerado: o relógio.
Todas as manhãs eram uma corrida. “Cadê meu tênis? Mãe, o ônibus já passou? A professora vai me dar bronca!” Se o sinal da escola tocasse antes dele chegar, seu peito apertava, as lágrimas queimavam suas bochechas, e o mundo parecia desabar. O tique-taque do relógio da parede soava como um juiz rigoroso: “TIC – você falhou. TAC – de novo.”

O Relógio Mágico
Um dia, depois de uma manhã de desespero, João encontrou no chão da escola um relógio de bolso enferrujado. Quando o tocou, uma voz suave ecoou:
— Sou o Tempo. Quer aprender a me escutar de verdade?
Antes que pudesse responder, os ponteiros giraram rápido, e João foi levado a três momentos especiais:
- O Pássaro e o Ninho: Um sabiá tentava construir seu ninho, mas o vento derrubava os gravetos. Em vez de desistir, o pássaro recomeçava, cantando. ("Nem tudo precisa ser feito na hora certa.")
- A Professora que Riu: Dona Marta tropeçou e derrubou os livros. Em vez de se irritar, ela riu e disse: “Acontece!” ("Adultos também erram.")
- O Futuro João: Ele se viu chegando atrasado à escola. Mas, em vez de bronca, seus amigos sorriam: “João chegou! Vamos brincar!” ("Seu valor não está nos minutos perdidos.")

O Vento e a Pedrinha
Quando o relógio mágico parou, João estava de volta ao pátio da escola. Um vento morno envolveu-o, trazendo o cheiro de terra molhada e jasmim. Seu coração, antes pesado como uma pedra, agora estava leve como uma pipa no céu azul.
O relógio sumiu, mas no seu lugar havia uma pedrinha branca e lisa, aquecida pelo sol. João a guardou no bolso, sabendo que, sempre que a ansiedade batesse, poderia tocá-la e lembrar:

O Grande Segredo
“O tempo não é um chefe bravo. É um amigo paciente.”
No dia seguinte, quando o ônibus quebrou, João respirou fundo, sentiu a pedrinha no bolso e sorriu. Tudo bem chegar um pouco atrasado.
E assim, o menino que vivia correndo aprendeu a andar no ritmo do próprio coração.
"João nunca mais chorou por minutos perdidos. Mas, se um dia a pressa tentar voltar, ele sabe que o segredo do tempo está guardado... no fundo do seu bolso."