Lúcia mal conseguia conter a animação quando seus pais anunciaram que passariam as férias na casa da Vovó Celeste, no interior. Era uma casinha amarela com varanda de madeira e um quintal cheio de árvores frutíferas que ela adorava explorar.
No terceiro dia de visita, enquanto brincava de esconde-esconde sozinha pela casa, Lúcia descobriu uma portinha pequena embaixo da escada que nunca havia notado antes. A porta rangeu quando ela a abriu, revelando um quartinho apertado e empoeirado, iluminado apenas por uma janelinha redonda.
— Nossa! — exclamou Lúcia, entrando devagar.
O quartinho estava repleto de caixas, baús e prateleiras cheias de objetos curiosos. Havia bonecas de pano com vestidos coloridos, carrinhos de lata enferrujados, peões de madeira e até mesmo uma peteca feita de penas verdadeiras. Mas o que mais chamou a atenção de Lúcia foi uma caixa de sapatos enfeitada com papel de presente dourado.

Dentro da caixa, ela encontrou dezenas de fotografias em preto e branco. Nas fotos, via crianças correndo, empinando pipas, brincando de roda e rindo muito. Uma das fotos mostrava uma menina que se parecia muito com ela mesma, segurando uma varinha fina de madeira decorada com entalhes delicados.
— Que varinha bonita — murmurou Lúcia, procurando ao redor.
Foi então que seus olhos encontraram a própria varinha, guardada cuidadosamente em um cantinho da caixa. Quando Lúcia a pegou, sentiu um formigamento gostoso nas mãos, como se a varinha estivesse viva.
De repente, uma voz suave ecoou em sua mente:
"Olá, pequena Lúcia. Eu sou a Varinha das Brincadeiras Esquecidas. Há muito tempo ajudo as crianças a descobrirem a magia dos brinquedos simples."
Lúcia olhou ao redor, assustada, mas também curiosa.
— Você... você pode falar? — sussurrou.
"Apenas com crianças que têm o coração aberto para a verdadeira diversão. Vejo que você encontrou o tesouro da sua avó. Ela também foi minha amiga quando era pequena, assim como sua bisavó e sua tataravó."
— Minha vovó brincava com essas coisas?
"Oh, sim! E como brincava! Vou mostrar para você."
A varinha começou a brilhar suavemente, e as fotografias ganharam vida. Lúcia viu sua avó ainda menina, correndo descalça pelo quintal, empinando uma pipa colorida que dançava no céu azul. Viu-a construindo casinhas de boneca com caixas de papelão e brincando de esconde-esconde até o sol se pôr.

— Mas por que ela guardou tudo isso aqui? — perguntou Lúcia.
"Porque as brincadeiras antigas são como sementes. Ficam guardadas esperando a hora certa de florescer novamente. E você, minha querida, é a jardineira perfeita."
Naquele momento, Lúcia ouviu a voz da Vovó Celeste chamando:
— Lúcia, onde você está, minha netinha?
Rapidamente, Lúcia guardou a varinha no bolso e saiu do quartinho. Encontrou sua avó na cozinha, preparando biscoitos.
— Vovó, eu encontrei um quartinho cheio de brinquedos antigos! — disse Lúcia, os olhos brilhando.
Vovó Celeste sorriu com ternura.
— Ah, você descobriu meu cantinho especial. Sabia que um dia você o encontraria.
— A senhora brincava com todas aquelas coisas?
— Claro que sim! Eram os brinquedos mais divertidos do mundo. Que tal se eu te ensinasse a fazer uma pipa bem bonita?

E assim começou a semana mais mágica da vida de Lúcia. Todos os dias, ela e a vovó escolhiam um brinquedo diferente do quartinho. Fizeram pipas de papel de seda que voaram alto como pássaros coloridos. Construíram carrinhos com latas e rodinhas de madeira. Aprenderam a fazer petecas e organizaram campeonatos no quintal.
A varinha sempre estava no bolso de Lúcia, sussurrando dicas e segredos:
"Para a pipa voar bem alto, é preciso correr com o coração cheio de sonhos."
"O pião gira melhor quando você acredita na sua própria força."
"As bonecas de pano guardam os segredos que você conta para elas."
No último dia das férias, Lúcia estava triste por ter que ir embora. Sentou-se no quartinho, segurando a varinha.
— Posso levar você comigo? — perguntou.
"Eu preciso ficar aqui, pequena Lúcia. Mas você não precisa de mim mais. Agora você conhece o segredo das brincadeiras verdadeiras."
— Qual segredo?
"Que a diversão não está nos brinquedos caros ou nas telas brilhantes. Está na imaginação, na criatividade e na alegria de compartilhar momentos especiais com quem amamos."

Lúcia entendeu. Guardou cuidadosamente a varinha na caixa dourada e desceu para se despedir da vovó.
— Vovó, obrigada por me ensinar as brincadeiras mais legais do mundo!
— E você vai ensinar para outras crianças também, não vai? — perguntou Vovó Celeste, piscando o olho.
De volta à cidade, Lúcia se tornou a menina mais popular da escola. Não porque tinha os jogos mais modernos ou o celular mais novo, mas porque sabia brincadeiras que ninguém conhecia. Ensinou os amigos a fazer pipas, a brincar de amarelinha e a contar histórias embaixo das árvores.

E sempre que uma criança descobria a alegria das brincadeiras simples, Lúcia sentia um formigamento gostoso no coração, como se a varinha ainda estivesse ali, sussurrando:
"A magia das brincadeiras antigas nunca se perde. Ela apenas espera passar de coração em coração."
Fim.