Na sala da professora Mara, havia 25 motores diferentes.
24 deles funcionavam no ritmo esperado: ligavam na hora da lição, desligavam no recreio e ronronavam baixinho durante a história.
O 25º motor era o Caio.
E o motor do Caio não conhecia ficar quieto.
Enquanto os outros motores faziam "zum-zum", o dele fazia "VRUM-VRÁ!" Seus olhos castanhos grandes eram como faróis acesos demais, e seus pés – sempre calçados em tênis um número maior – pareciam ter molas invisíveis.
— Caio, desliga um pouco! — pedia a professora.
— Mas eu tô desligado! — ele respondia, já subindo no armário para investigar o barulho do ar-condicionado.
Foi assim que, num recreio, enquanto as crianças brincavam no pátio, o Caio voltou sorrateiro para a sala. O relógio redondo da parede fazia um "tic-tac" diferente havia dias. "Tá com problema no carburador", pensou ele. Em cinco minutos, tinha o relógio desmontado sobre a mesa – engrenagens, molas e ponteiros espalhados como um quebra-cabeça metálico. Quando a turma voltou, deparou-se com a cena: Caio segurando o ponteiro das horas como um troféu, a professora Mara com os olhos arregalados e o relógio gritando "TIC-TAC-ERRADO!" em ritmo de samba.
— Eu só queria deixar ele mais rápido! — explicou Caio, com um parafuso grudado na franja.
As outras crianças cochichavam:
— Ele é como um ventilador no inverno... até gostamos, mas cansa!
— Parece um carro em primeira marcha, acelerando no lugar!
Só que, no dia em que o ventilador da sala enguiçou, foi o Caio quem descobriu que um lápis encaixado na hélice fazia um barulho "CLIC-CLAC" engraçado. E quando a festa da escola ficou sem música, ele improvisou uma bateria com baldes e o motor da geladeira ("PUM-TSÁ!").
Aos poucos, a turma foi entendendo: motores são diferentes. Uns são motores de foguete, outros de relógio. Mas o Caio? Era o tipo que botava fogo na gasolina da imaginação.
E, no fim das contas, toda turma precisa de um motor que não sabe ficar em ponto morto.

O Dia em Que o Motor Esquentou
Tudo começou quando a professora Mara anunciou:
— Turma, vamos fazer uma exposição de trabalhos! Cada um vai mostrar algo especial sobre si.
Os motores da sala entraram em funcionamento:
- Lara, o motorzinho de geladeira, tricotou um cachecol perfeito.
- Pedro, o motor a diesel, levou três dias para pintar um trem detalhado.
- Já o Caio? Seu motor turbo acelerou na hora:
— Eu vou construir um CARRO DE VERDADE que funciona sem gasolina! — anunciou, fazendo barulho de acelerador com a boca ("VRUUUUM-PÁ!").

O Problema do Superaquecimento
Na hora de colocar a mão na massa, porém, o motor do Caio entrou em pane:
- Ele tentou usar o ventilador da sala como hélice ("Pra economizar energia!").
- Desmontou a cadeira da professora para fazer o banco ("É mais confortável!").
- E, no auge do projeto, usou a tinta dourada da exposição para "pintar o escapamento" – incluindo o cartaz da diretora.
— CAIO! — gritou o Lucas, o motorzinho de relógio da turma. — Você tá estragando tudo de novo!
— Mas eu tô consertando! — insistiu Caio, com as mãos cheias de graxa e o coração acelerado como pistão sem óleo.

A Rejeição: Quando o Motor é Desligado
A turma se reuniu num canto:
— Ele é um caminhão desgovernado! — disse alguém.
— Sempre acaba com tudo que toca! — reclamou outro.
Até a professora Mara suspirou:
— Caio, seu motor é incrível... mas hoje, precisamos que você fique no modo espera.
E pela primeira vez, o menino que não conhecia neutro ficou em ponto morto.