Essa é uma história um tanto quanto diferente. Ela fala de um burrinho um pouco atrapalhado, engraçado e exigente. Desde pequeno só pensava em aprender a voar. Eis que esta estória vou lhes contar.
Era uma vez numa grande floresta …
Atenção. Atenção. - O Sr. Lebre gritava mas com pouca certeza de que seria ouvido. É que naquele dia todos estavam reunidos e alegres, os pássaros a cantar, os cães a latir, os sapos a coaxar. Todos conversavam, a alegria era geral, pois o mais sábio entre eles uma visita iria realizar.
E o Sr. Lebre não parava de tentar, gritava até não mais aguentar. Até que de forma solene, o Sr. Leão vendo o desespero do Sr. Lebre, Rugiu: Ruuuuuuuuuulllllllll! Num instante o silêncio reinou. Parecia que todos tinham virado estátuas. No rosto do Sr. Lebre um sorriso surgiu.
– Atenção - Novamente rugiu o Sr. Leão - O nosso memorável amigo Sr. Lebre deseja falar.
O Sr. Lebre agradeceu ao Sr. Leão, que como num passe de mágica, colocou o Sr. Lebre sobre os ombros, fazendo-o ficar bem altão.
— Amigos - Disse o Sr. Lebre - Hoje é o grande dia. Nosso Líder está para chegar. E então ouviram-se aplausos, sorrisos e muita agitação. O Sr. Leão deu um pulo de alegria.
Minha nossa - disse o Sr. Lebre - Tenha cuidado Sr. Leão, não me vá derrubar no chão.
A animação era geral. Todos queriam ajudar. As formigas cuidavam de juntar as folhas caídas justamente com os tamanduás, eles ajudavam, mas ficavam por ali às formigas espreitar. (Até uma chuva caiu para a todos refrescar)
Mais a frente haviam os jacarés, que vez-por-outra, meio que sem querer, mordiam os pés dos desavisados e os macacos que saltavam nas árvores em busca de frutas para refeição, comiam mais da metade antes de colocar em um grande cestão.

“Haviam muitas brincadeiras, mas nada de violência não. Neste dia todos eram amigos, todos se davam as mãos. Havia algo maior a se respeitar, neste dia todos se sentiam iguais a se confraternizar. Todos amigos e irmãos.” Mas em todo aquele burburinho de animais não se via o burrinho, que tinha lá suas obrigações: cuidava de uma loja, fazia bolo e ajudava dando banho em cães. Todo ano os animais da floresta se reuniam numa grande festa. Neste dia a grande ave, o mais velho entre eles faria sua grande palestra. Os animais passavam o ano todo comentando.
Na noite anterior muito tempo na loja ficou, dormiu tarde e cedo não acordou. Perdeu grande parte da preparação da festa, quando acordou (com o som com que despertador tocou), muito abismado ficou, como tudo estava tão lindo, que alegria veio surgindo quando do dia lembrou:
— Hoje é o grande dia. Será que o Sr. Coruja chegou?
— Preciso das tarefas rápido cuidar. A que horas a palestra irá começar? Banho nos cães, bolos de brigadeiro para assar e a loja, quero nem lembrar: prateleiras e prateleiras esperando por panos passar.
— Sou um bicho bastante ocupado - Desse jeito, sem tempo, como aprenderei a voar?
Neste dia o Sr. Preguiça, dono da loja chegou e para a tristeza do nosso amigo burrinho, uma coisa na loja ele não gostou:
— Logo ao entrar, Sr. Burro, de fato observei - disse o Sr. Preguiça, se dirigindo para perto do burrinho, prolongando a última palavra por quase um minuto. O “Observeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiii…” do Sr. Preguiça logo uma sensação provocou - Uahhhhhhhhhhhhhh - O Sr. Burro, bocejou.

O que de certo logo se constatou é que tudo estava errado, e assim se acertou: Tudo que estava de um lado iria para o outro e o que estava em cima deveria ir para baixo. O burrinho de susto tropeçou.
— Aí de mim - disse o burrinho - não sairei antes do fim.
E assim o dia do nosso amiguinho na loja se passou, passando uma coisa de um lado para o outro e de cima para baixo. Tinham coisas que iam até o telhado.
Quando enfim o burrinho com suas tarefas terminou, olhou para o relógio - Uauuu, a palestra já deve ter terminado. Uma lágrima insistiu em seu rosto rolar, e triste logo ele ficou, pois nisto o ano todo pensou, mas antes da lágrima no chão tocar certo ele ficou, irei correndo, “não desistirei”, ao menos um abraço no Sr. Coruja eu darei.
E logo ao chegar, ainda de longe viu, com grande emoção, em cima de um grande galho o ancião. “Era uma coruja grande, de cores que iam do marrom escuro ao preto, olhos grandes e firmes e um bico dourado, meio indo para o vermelho. Tinha uma grande manta branca sobre ele e um cajado para se apoiar”
— Para que ele precisava disso - pensou o burrinho - Ele tem enormes asas, ele sabe voar..
E quando na grande clareira chegou, numa árvore encostou. Todo o lugar estava repleto de animais, não havia cadeiras para mais. E então foi quando ouviu:
— … E vos lhes digo: Qualquer um pode voar! Isso faz parte de nossa natureza.
E assim, a palestra que ocorre apenas uma vez por ano se encerrou. Todos os animais aplaudiram de pé. Todos sorriam. Estavam felizes em ter recebido novamente aquele que eles consideravam o grande iluminado.
Naquele momento os olhos do burrinho se arregalaram e de lá pareceram sair até uns brilhinhos, como pequenas estrelinhas, e um sorriso grande e sincero surgiram em seu rosto que todo se iluminou.
— Então posso voar! Meu sonho poderei realizar. - falou o alegre burrinho.
A frase não mais saiu da cabeça dele, que vislumbrado ficou, pois ouvindo o que ouviu de quem ouviu, passou a acreditar que era possível realizar o que tinha ouvido. “Qualquer um pode voar”. A frase se tornou uma grande verdade e isto mudaria sua vida para sempre, pois o objetivo de vida do burrinho, passou a ser aprender a voar e logo começaria nisto trabalhar.
A noite toda planos bolou. Sabia que podia voar, foi o ancião que disse, ele falou! Precisava apenas encontrar como fazer e para isso a disposição não iria perder.
Muito ele escreveu e desenhou, haviam asas, balões e até planejado um tal de impulsor. Muitas coisas ele pensou, agora teria que achar um meio de fazê-lo, pois na teoria era um grande feito, foi quando o burrinho se apercebeu que não era questão de se ter talento. E ele se chateou. Era preciso ter TEMPO.
— Como então poderei voar, se muitos planos faço mas só na teoria consigo ficar?.
Na manhã seguinte o burrinho bastante animado acordou.
— Pegarei o primeiro dos planos e colocarei a realizar. Só assim terei certeza que posso voar.
E por três dias o burrinho trabalhou, e na noite do terceiro dia, uma grande asa nos mostrou. Não se sabia ao certo, se eram asas de borboletas ou se eram asas de sabiá, mas de longe se sabia que não iria funcionar.
O burrinho de muito insistente a todos não quis escutar. - Sr. Burro, isso não irá funcionar! - E assim todos lhe falavam, ao menos aqueles que ele conhecia, mas o burrinho simplesmente não ouvia. Quando caminhava uns barulhos todos podiam escutar, era uns tric’s, trac’s, trecs, as crianças punham-se a gargalhar.
O burrinho já tinha uma fama de desajeitado, mas todos os amigos o amavam e por isso lá estavam para lhe proteger. Mas ele as vezes na trelice escapava, ninguém podia prever. Desta vez sem que acreditassem seus amigos, o burrinho pôs-se a correr, batendo as asas presas por cordão, certo de que conseguiria voar, não havia nada a temer. E assim de uma ribanceira pulou, coisa de dois metros até chegar ao chão e o burrinho uma coisa teve de aceitar, que as asas de borboleta e sabiá, realmente, jamais iriam funcionar.
O resultado da aventura do burrinho não foi muito contente: “Uma pata quebrada, uma cicatriz na testa, o rabo ficou torto e foi-se um par de dentes.” Lá fora a noticia corria, de animal a animal como de gente pra gente. O burrinho de repente virou noticia, dependendo de quem contava havia uma nova versão, as vezes estava como inocente e outras tantas como vilão. Mas uma coisa estava certa, é que depois da palestra o burrinho não iria parar de tentar. Pois ele ouviu da grande coruja que todos podem voar.
E quando o ancião do fato ficou sabendo uma preocupação se instalou em seu coração.
— Mas que burrinho treloso. Ele não pode estar fazendo isso não!
De tudo que ficou sabendo, tirando todo o exagero, ainda havia ficado preocupação. Decidiu que iria fazer uma visita ao nobre amigo burrinho - Ele precisa de orientação.

Para a surpresa do burrinho que não havia acreditado, era o próprio ancião que havia chegado.
– Fiquei sabendo de muitas estórias. Pois vim esclarecer: Está tudo errado. - Disse a coruja pousando suas longas asas sobre os ombros do burrinho e deixando um belo sorriso aflorar.
–Quero lhe contar o jeito certo para voar. Do jeito que você esta fazendo só conseguirá é se esborrachar.
— Pegue este livro, coloque-o entra as mãos. Leia concentrado desde a primeira página. - Não pare. Não olhe para mim não. Você logo perceberá que começará a sair do chão. É a magia da leitura lhe envolvendo no mundo da imaginação. Continue a ler e perceberá que mais alto irá voar e muitos lugares irá conhecer, … qualquer coisa pode acontecer.
E o burrinho vislumbrado ficou, sentou-se num galho e muitas horas ali passou. Muitas risadas deu e até sustos tomou, quando a estória do livro terminou pelo ancião procurou, mas o que encontrou foi um bilhete e uma flor: “Para meu amigo e irmão burrinho, com muito amor”, haviam outros tantos livros numa cesta e por baixo várias penas que formavam umas asas, e ao abrir o bilhete haviam os dizeres: “É assim meu amigo, é assim que se voa … é assim que se viaja”. O burrinho estava feliz, muito alegre. Finalmente havia compreendido, que para se voar não é preciso muito fazer, só basta ler um livro bem concentradinho que a magia irá acontecer.
