Era uma vez um pequeno grilo chamado Zizo, que vivia no Vale das Folhas Brilhantes. Zizo adorava cantar — e, embora sua voz fosse um pouco desafinada, ele estava certíssimo de que era o melhor cantor da floresta.
— "Não preciso de aulas, já nasci sabendo!", dizia ele, pulando de folha em folha, fazendo cócegas nos ouvidos dos outros bichos com seus "trinados" agudos.
Zizo, o grilo, não apenas acreditava ser o melhor cantor da floresta — ele estava absolutamente convencido de que sua voz era um presente dos deuses para os ouvidos do mundo.
Um dia, as cigarras do Bosque Azul convidaram todos os insetos para um grande coral de verão. Zizo, é claro, se inscreveu como solista principal.
— "Não precisamos de ensaios! Minha voz é naturalmente perfeita!", anunciou, empurrando a cigarra Maestrina Lili para o lado.

Quando começou a cantar, porém…
- Os besouros taparam os ouvidos.
- As formigas caíram de marcha (achando que era um alarme de perigo).
- Até o rio, que sempre fluía calmamente, pareceu parar por um segundo — de susto.
— "Isso não foi música… foi um ataque sonoro!", sussurrou uma joaninha.
Zizo, porém, fez uma reverência:
— "Obrigado, obrigado! Eu sei que foi emocionante. Chorem à vontade!"

Zizo decidiu conquistar a borboleta Bela, a mais graciosa do vale, com uma serenata. Subiu no galho mais alto e berrou:
"Ó Bela, és como… um… um… … repolho com asas? (Pausa dramática)Não, espera!És como um…… SINO DE QUEIJO!"
Bela, horrorizada, fugiu antes que ele rimasse "queijo" com "beijo".
— "Ela fugiu de emoção!", concluiu Zizo, orgulhoso.
No Círculo dos Sábios (onde os animais discutiam filosofia), Zizo se intrometeu para falar sobre "A Arte do Canto Universal".
— "Na minha opinião, quem canta bem não precisa estudar!", declarou.

O tatu Teodoro, especialista em música, tentou explicar sobre escalas e ritmo. Zizo interrompeu:
— "Palavras complicadas são inveja de quem não tem talento nato!"
Os sábios suspiraram. Até a minhoca, que não tinha ouvidos, enterrou-se mais fundo no chão.
Foi então que o Vento Outonal soprou um recado para Zizo:
— "Quem se acha grande antes de crescer, cai feito folha seca no inverno."
Zizo riu:
— "Ventos não entendem de arte!"
Mas no dia seguinte, ao passar pelo Lago das Rãs, ouviu seu próprio canto ecoando distorcido na água. Pela primeira vez, ouviu… os guinchos, os roncos, os chiados.
— "Esse lago está estragando minha voz!", resmungou.
Foi quando a coruja Ofélia pousou ao seu lado:
— "Ou será que o lago está apenas mostrando o que todos ouvem?"
Zizo ficou em silêncio. Pela primeira vez, uma dúvida surgiu em seu coração.

O Sábia Coruja e o Espelho das Canções
Um dia, a coruja Ofélia, que morava no Carvalho da Sabedoria, ouviu Zizo e suspirou:
— "Querido grilo, até as nuvens precisam aprender a dançar com o vento. Que tal visitar o Espelho das Canções?"
O tal espelho era mágico: mostrava o quanto cada criatura realmente sabia sobre algo. Zizo, cheio de si, cantou diante dele. Para sua surpresa, o espelho refletiu apenas um grilo minúsculo, quase sem eco.
— "Isso deve estar quebrado!", protestou Zizo. "Eu canto como um rouxinol!"
Ofélia, paciente, levou-o até o Rio das Vozes, onde os pássaros treinavam. Lá, Zizo ouviu o melro Léo, que estudava há anos, dizendo:
— "Ainda erro notas… mas cada dia descubro uma nova!"
Zizo franziu a testa. Como alguém tão bom podia se achar imperfeito? Tentou imitar Léo, mas suas notas saíram todas tortas. Pela primeira vez, sentiu um frio na barriga:
— "Será que… não sou tão bom quanto pensava?"
O Segredo do Vale
Ofélia explicou:
— "O espelho não mente. Quem sabe pouco, às vezes, acha que é grande. Quem sabe muito, vê o quanto o mundo é imenso."
Zizo, agora humilde, começou a praticar. Seus primeiros sons ainda eram ruins, mas ele já ouvia os próprios erros. Com tempo, seus trinados ficaram mais doces — e, mesmo assim, ele dizia:
— "Ainda tenho muito a aprender!"
Moral da História
No Reino do Saber-Crescente, todos descobrem:
- Quem não sabe, não vê o que falta.
- Quem sabe, enxerga além das próprias asas.
E Zizo? Virou o grilo que cantava com o coração — nem perfeito, nem arrogante, mas sempre crescendo.