Num lugar onde o sol abraçava a terra todos os dias, vivia Leonel, um leãozinho com uma juba dourada como o pôr do sol. Ele era o mais forte, o mais veloz, o mais esperto… e, acima de tudo, o que mais odiava perder.
Se fosse uma corrida, ele rugia se alguém chegasse primeiro. Se fosse uma brincadeira, suas garras coçavam de impaciência quando não ganhava. Até para ver o nascer do sol, ele queria ser o primeiro a avistar os raios dourados no horizonte.
— Não é justo! — ele resmungava, batendo a pata no chão. — Eu deveria ter vencido!
Os amigos da savana começaram a se afastar. A girafa esticava o pescoço para longe, os macacos pulavam para outras árvores, e até as tartarugas, tão calmas, preferiam ficar em seus casulos quando Leonel aparecia.
Até que um dia…
Uma voz suave como o vento chamou sua atenção:
— Por que você corre tanto, pequeno rei? Era o Velho Baobá, a árvore sábia, que já havia visto milhares de luas e conhecia todos os segredos da savana.
— Porque eu preciso ser o melhor! — respondeu Leonel, ofegante. O Baobá balançou seus galhos, fazendo sombras dançantes no chão.
— Você já viu um rio competir com o mar? Leonel franziu a testa.

— O rio só corre, canta, brinca com as pedras e abraça a terra. Ele não pensa em chegar primeiro… só em fluir.
O leãozinho ficou em silêncio. Pela primeira vez, sentiu algo estranho: o calor do sol sem pressa, o cheiro da grama sem competição, o riso dos amigos sem um vencedor.
Naquela noite, sob um céu salpicado de estrelas, Leonel deitou sobre a grama macia e pela primeira vez… escutou. Não o rugido dos outros animais, não o som de suas próprias queixas, mas uma voz mansa dentro dele: — Por que você tem tanto medo de perder, Leonel? — perguntou a voz, como um fio de água correndo entre as pedras.

Ele ergueu as orelhas, surpreso.
— Medo? Eu não tenho medo! Só… só quero que todos saibam que sou o melhor!
A voz sussurrou novamente: — Mas se você for só "o melhor", quem será você quando não vencer?
O coração do leãozinho apertou. Nunca tinha pensado nisso. Quem era ele além das vitórias? Lembrou-se então dos piqueniques com os macacos, onde comiam frutas rindo sem contar pontos. Das histórias que a tartaruga contava ao luar, sem pressa de terminar. Eram esses momentos que faziam o sol brilhar mais quente.
No dia seguinte, quando o suricata o desafiou para uma cabriola no tronco caído, Leonel tropeçou e caiu de bumbum na areia. Todos riram. E então… ele riu também. Não da queda, mas da alegria de estar ali, da terra quente em suas patas, dos amigos de olhos brilhantes.

— Vamos de novo! — disse o leão, ajudando o suricata a se levantar. E dessa vez, não importou quem equilibrou-se por mais tempo. O que importou foi o vento balançando suas jubas juntos, como se a savana inteira sorrisse.
No dia seguinte, ele desafiou a zebra para uma corrida… e perdeu. Mas, em vez de rugir, ele riu.
— Foi divertido! — disse, enquanto rolavam juntos na grama.
Aos poucos, Leonel descobriu que ser forte não é sobre vencer, mas sobre compartilhar a força. Que ser veloz não é sobre chegar primeiro, mas sobre sentir o vento no rosto. E que ser inteligente não é sobre saber mais, mas sobre aprender com os outros.
E assim, o leão que queria ser o rio… **aprendeu a fluir.