Mateus tinha olhos que pareciam janelas para um lugar cheio de invenções e perguntas.
Ele adorava montar quebra-cabeças, imaginar planetas de gelatina e desenhar criaturas que ninguém nunca viu.
O pai, Jorge, dizia que ele era um “cometa travesso”, sempre em movimento, sempre brilhando diferente.
Mas um dia, durante o lanche da escola, uma coleguinha perguntou:
— Por que você não tem o nariz do seu pai?
Mateus não soube o que responder. Nem queria saber. Mas a pergunta escapou do recreio e foi pousar, feito passarinho desconfiado, no coração do pai.

Capítulo 2 - O Papel que Balançou a Casa
Jorge começou a reparar:
Mateus dançava como a mãe, sorria diferente dele e parecia ter um mapa próprio no coração.
Então, junto com Lucinda, decidiram fazer um exame. “É só para tirar a dúvida da cabeça”, disseram.
Mas o papel que saiu da máquina trouxe uma notícia torta:
O resultado dizia que Jorge não era o pai de Mateus.
O chão ficou de ponta-cabeça. O silêncio virou hóspede da casa. E Mateus, que ouviu tudo atrás da porta, sentiu o mundo diminuir de tamanho.
Lucinda, com os olhos faiscando firmeza, disse:
— Eu sei do que é feito o amor. E ele não se mede assim.

Capítulo 3 - A Caça ao Mistério Invisível
Determinado como detetive de histórias sem final, Jorge começou a buscar respostas. Fizeram novos exames, visitaram médicos, leram livros tão grossos quanto travesseiros.
Até que encontraram alguém diferente: um cientista de gravata torta e sorriso de vento, que parecia mais um mágico aposentado.
— Às vezes, o corpo é um baú com compartimentos secretos — ele disse.
— E há histórias escondidas nas entrelinhas das células.

Capítulo 4 – O Irmão que Morava em Silêncio
Com novos exames e uma lupa maior que a imaginação, descobriram algo inacreditável:
Quando Jorge ainda era uma sementinha na barriga da mãe, ele ia ter um irmão gêmeo.
Mas esse irmão não conseguiu crescer. Em vez de desaparecer, deixou um pedacinho de si dentro de Jorge.
Como quem entrega um bilhetinho antes de partir.
Esse pedacinho ficou adormecido por anos. Mas ao formar Mateus… foi ele quem falou primeiro.
Mateus nasceu com o DNA do tio que nunca nasceu.
Era filho de Jorge… mas também herdeiro de uma parte esquecida, quase mágica.

Capítulo 5 – Um Amor com Raízes Misteriosas
Quando Jorge olhou para Mateus de novo, viu algo além dos olhos ou do nariz.
Viu um elo invisível, uma ponte de afeto que atravessava a ciência.
E soube que não era a genética que fazia um pai, mas o abraço que acalma e a escuta que permanece.
Mateus sorriu. Agora, carregava uma história única:
Tinha dois pais no mesmo pai.
Era feito de amor, memória e um pequeno milagre genético.
E naquela noite, antes de dormir, desenhou um coração com dois rostos sorrindo dentro.
Depois colou na porta da geladeira.
Porque família é isso: uma galeria de mistérios com moldura de afeto.
FIM.